terça-feira, 11 de novembro de 2008

Teologia da Libertação: encontros e desencontros

A Teologia da libertação, como seu nome já nos propõe, nasceu como aspiração à libertação do pobre que é carente de justiça e de dignidade humana. Esta Teologia está fundamentada a partir de dois critérios: primeiro, diz que o pecado não é somente pessoal, mas é personificado em estruturas sociais opressivas reais, como o capitalismo; segundo, o mundo está basicamente dividido em duas forças irreconciliáveis os opressores e os oprimidos.

A Teologia da libertação teve maior efervescência na América Latina, pois ela nasceu aqui, em 1964, logo após o Vaticano II. Os teólogos mais influentes da TL foram: os católicos; Gustavo Gutiérrez, Ignácio Ellacuría, Leonardo Boff, os protestantes; José Míguez Bonino, Rubem Alves, Julio Santa Ana.

A TL nasceu como uma crítica a passividade cristã ante, a injustiça social que assolava a América Latina, como também, um protesto contra alguns lideres da Igreja que foram complacentes partidários dos regimes opressores. A libertação proposta por essa Teologia teve como pano de fundo, o marxismo. Os teólogos da TL tentaram fazer um casamento entre o cristianismo e o marxismo. O marxismo é visto, por estes teólogos, como mediador entre a fé cristã e a efetiva práxis em favor do pobre. Na aplicação desta concepção, o compromisso cristão de amor aos pobres como Jesus ensinou, tomou um novo jeito de ser. Era preciso tomar o lado do pobre oprimido contra o opressor e empreender uma luta revolucionária contra as estruturas capitalistas pecaminosas. Esta que é considerada como a maior fonte de toda miséria humana e que conserva o pobre na servidão.

Este novo modelo de fazer Teologia foi um bem para Igreja na América Latina. Isso ninguém pode negar, pois ela ajudou o povo sofredor a descobrir que era necessária uma atitude diante de tamanha exploração que os assolava e assola. Há muitos sinais de vida nas comunidades que foram movidos pela TL, se fossemos citar precisaríamos de muitas páginas. Através dela, surgiram vários profetas, mártires e santos. Contudo, a TL também gerou muitas dores de cabeça à Igreja Católica, e o principal motivo está na aliança feita com o marxismo. Foram muitos debates, críticas e acusações acerca desta aliança. Cito aqui, alguns pontos do que acentuaram contra a TL:

1 – Para muitos, os teólogos da libertação apresentavam mais contundente a ideologia marxista do que o próprio Evangelho para a libertação humana. Estes teólogos acreditavam que sem o acréscimo do marxismo, a luta cristã estava fadada ao fracasso. Nas comunidades de base passaram-se a distribuir publicações da ideologia marxista mais do que a o próprio Evangelho. Sobre este aspecto afirmou a Igreja no documento Instrução sobre alguns aspectos da ‘Teologia da Libertação’: “não é raro que sejam os aspectos ideológicos que predominem nos empréstimos que diversos ‘teólogos da libertação’ pedem aos autores marxistas” (1984, p.28)”.

2 – Esta Teologia deu muita ênfase à libertação pela política, muitas vezes reduzindo a religião, a política. Para estes teólogos da TL, a política é um modo de fazer um compromisso concreto, é um “ato de amor historicamente efetivo” e de desfazer o que chamam de “formas desencarnadas de espiritualidade”. Como forma de orientação para este aspecto, afirmou a Igreja: “A consciência verdadeira é, pois, a consciência ‘partidarista’. Pelo que se vê, é a própria concepção de verdade que aqui está em causa e que se encontra totalmente subvertida: não existe verdade – afirma-se – a não ser na e pela práxis partidarista” (1984, p.33). Ainda dentro deste contexto, afirmou João Paulo II, usando as palavras do Papa Paulo VI: “A Igreja perderia seu significado mais profundo. A sua mensagem de libertação não teria originalidade alguma e prestar-se-ia a ser monopolizada pelos sistemas ideológicos e pelos partidos políticos” (1979, p.67).


3 – A concepção da libertação marxista levaria os cristãos a luta armada, pois da luta de classes marxista nasceria a inversão da violência, agora dos pobres contra os opressores. “A lei fundamental da história, que é a lei da luta de classe, implica que a sociedade esteja fundada sobre a violência. À violência que constitui a relação de dominação dos ricos sobre os pobres deverá responder a contra violência revolucionária, mediante a qual esta relação será invertida” (1984, p.34).

4 – A libertação prevista pela TL visava mais o campo material, e esquecia o lado espiritual. “Nem só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus” diziam os opositores.

5 – A Teologia da libertação dividiu a Igreja da América Latina, em cristãos revolucionários e cristãos alienados. E conseqüentemente, a Igreja enquanto hierarquia passou a ser vista com maus olhos e como um modelo de alienação. Não foram poucas às vezes que pronunciaram “A Igreja romana é uma fonte de omissão”.

A Igreja lançou vários documentos com intenção de chamar atenção de determinados pontos da TL. Principalmente nos aspectos que tendiam para a sociologia ou ideologia marxista. Como também, chamou alguns de seus filhos, teólogos da libertação, a refazerem seus caminhos teológicos. Alguns mais radicais não a escutaram e se perderam no amor incondicional ao marxismo e ao materialismo. Por isso, constatam-se na história que o processo de conversão a TL levou vários cristãos a se tornarem ateus marxistas, e, foram poucos marxistas a se converter a Cristo com a pregação dos cristãos revolucionários marxistas.

Nos dias de hoje, existem vários debates em torno da TL. Um deles, evidência que ela hoje tem se tornado exclusivamente acadêmica a exemplo de sua companheira: a ideologia marxista. E que os teólogos desta área têm se ocupado simplesmente com noções abstratas ou com meras críticas ao jeito romanizado de ser da Igreja. Daí surge a pergunta: como decodificar a TL, hoje, na práxis tanto proclamada? Será que estar nos sindicatos, movimentos sociais que nos últimos anos, aqui no Brasil, tem servido de escada para políticos oportunistas serem eleitos? Como por exemplo, o Presidente Lula e muitos dos seus companheiros do PT, que fundamentaram sua luta política na base oprimida, e pouco fizeram por estes, a não ser, hostilizá-los por um período a espera do que não viria? O debate é oportuno, pois ainda vivem as velhas formas de opressões, só que agora com roupas novas, como por exemplo, antes só combatíamos a ditadura de direita, hoje também combatemos a ditadura de esquerda.

Paz e Bem! Frei Gilton. OFMCap.


Bibliografia:
SAGRADA CONGREGAÇÃO PARA DOUTRINA DA FÉ. Instruções sobre alguns aspectos da Teologia da Libertação. São Paulo: Paulinas, 1984.
PAULO II, João. Pronunciamentos do Papa na América Latina. São Paulo: Paulinas, 1979.
DIAS, João Paulo Freire. Dom Luciano e o Marxismo. Monografia apresentada na conclusão do curso licenciatura em filosofia no Seminário Maior Nossa Senhora da Conceição, Aracaju 2006.
SARANYANA, Josep Ignasi. Cem anos de Teologia na América Latina. Trad. Frei Celso Márcio Teixeira. São Paulo: Paulina e Paulus, 2005. (coleção quinta conferência).

4 comentários:

Anônimo disse...

Frei Gilvan, creio que o senhor está, infelizmente, muito enganado em relação a algumas coisas que escreve.

O senhor diz que a TL luta contra "estruturas sociais opressivas reais, como o capitalismo;".

A TL não luta contra "estruturas opressivas". Ela luta contra o capitalismo, porque ela quer implantar o socialismo. Ela não critica os males do mundo, mas somente os males que ela diz ser males do capitalismo.

Cuba oprime, mas ninguém da TL a critica, nem faz passeatas para pedir democracia, direitos humanos lá.

E os milhões de mortos na China comunista, na União Soviética...

Sugiro para o senhor, em questão ideológica, a leitura dos artigos de Olavo de Carvalho (http://www.olavodecarvalho.org/), especialmente a parte mais abaixo no site, as "Novidades".
Em questão filosófica, sugiro o site do padre Paulo Ricardo (http://www.padrepauloricardo.org/filosofia/).

Espero constribuir para enriquecer sua formação.

Anônimo disse...

Existem muitos mal-entendidos sobre a teologia da libertação. Um deles é considerar que sua base é a teoria marxista.
Respeito sua reflexão, mas acredito que para uma afirmação como essa, deve-se levar em consideração o verdadeiro conceito da TL, e para isso ler outra fontes.

Anônimo disse...

Meu caro amigo e irmão.
Na Verdade si meditarmos bem na vocação e vida do nosso Pai Seráfico, poderiamos dizer que ele foi o Primeiro teologo da teologia de libertação.
Eu como Bispo e Frei Franciscano da Ordem dos Franciscanos de São José Cupertino, entendo que a sua visão e conhecimento deste ramo é muito mal entendido e espero logo que termine o seu estudo começamos a pensar de um modo diferente.
Paz e Bem!
+ Dom Teixeira, OFSJC

Ricardo Z. Vendramini disse...

Até hoje nunca vi também um marxista virar cristão por causa da teologia da libertação, mas já vi vários cristãos abandonarem a fé em Cristo por causa desta "teologia". Se a teologia da libertação não tivesse nada a ver com o materialismo marxista isso não ocorreria. Afinal, para ajudar (muito bem) os pobres materialmente bastam os bons e velhos ensinamentos de Cristo sobre a caridade. Eles são mais do que suficientes. Socorrer-se do materialismo marxista é a morte do próprio cristianismo.

Paz e Bem!

Ricardo